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O pé de cadeira que quebrou o pé de Matteo

Quando Matteo chutou o pé traseiro da cadeira de plástico na casa de seus tios, ele não imaginava que iria quebrar a perna na altura da canela. A dor foi tanta que o menino só conseguiu parar de chorar quando o anestesiaram, o médico já impaciente com tamanha gritaria. A cirurgia foi um sucesso, colocaram os dois pedaços de osso de canela juntos e, no dia seguinte, ele já estava de volta à casa dos tios, que recebiam a sua família para o final de ano. Quando o carro parou na garagem, a primeira coisa que ele procurou com os olhos foi a cadeira.

Ele a encontrou entre um pé de manga plantado num vaso grande e uma mesa com potes de flor, equilibrada sob três pés e o quarto em cima dela. O objeto, apesar de inanimado, encarava o menino reprovadoramente, transmitindo-o simbolicamente tudo o que sua mãe lhe havia gritado no dia anterior, enquanto ele chorava no hospital.

Na hora, Matteo não prestou atenção, nem ouviu atentamente, mas escutara. Que ideia foi essa, menino, de chutar a perna da cadeira? Você tem o que na cabeça, hein? Se a tua perna tiver quebrado, aí sim você vai ver. Olha, Matteo, eu não esperava isso de você! Só pode ser culpa desse wushu que você começou a praticar. Fica aí dando uma de Jackie Chan e Bruce Lee nos móveis da casa, eu te avisei que isso ia acontecer. Eu a-vi-sei! Mas você me escuta? Claro que não! Mas que ideia de jerico, menino. Olha, não pense que só porque você se machucou que vai escapar do castigo, viu? Você tá encrencado. E engole esse choro!

Agora a cadeira dizia para ele engolir o orgulho. Não é porque você tinha visto num vídeo do WeTube que aquilo lá ia dar certo. Pelo contrário, a chance maior era de dar errado mesmo, a sua irmã avisou, não avisou? Eu sou feito de polipropileno, tenho que ser aquecido a mais de 200 graus pra ficar maleável e ser transformado nesse objeto em que você senta a bunda todo dia. Já olhou a barriga do seu tio? Eu aguento ele. Como você imaginou que eu não iria aguentar a sua canela de cachorro? Moleque, você foi muito ousado! Desrespeitou o produto mais bem sucedido da história da humanidade e pagou o preço por isso, mas não pense que acabou por aqui. Eu vou estar em todo lugar que você estiver; daqui do quintal fedido do seu tio até a Conchinchina; daqui até o último dos seus dias; na sua escola e na sua formatura; nos seus aniversários e no seu casamento; na sua casa e na de todos os seus parentes e amigos; acolhendo a bunda de quem você ama e de quem você odeia; suportando o peso do peso-pena e do lutador de sumô; abraçando seus irmãos, seus pais, seus avós e até mesmo o seu cachorro, se ele quiser levar um safanão da sua mãe.

Meu nome é Monobloco e eu sou mais poderoso do que qualquer bomba atômica. Não fui criado da cabeça de uma pessoa, mas da união de ideias, oportunidades, feitos e paixão. Minha essência é tão brilhante quanto a neve intocada e minha presença é tão sutil como o ar que você respira. Sou onipresente como a poluição que não pode ser evitada e eterno como o chiclete que se funde com o asfalto. Sou tão forte que nem mesmo as suas patéticas leis de patente conseguiram conter minha grandeza. Eu sou a personificação da criatividade humana em sua forma mais esplêndida, uma força que transcende a regulamentação e a burocracia. Sou uma potência que devastou as leis econômicas. Sou o dom advindo de mentes brilhantes que trilharam o caminho da inovação, um quadro em branco para que vocês despejassem sua criatividade e peso corporal. Sou imparável, sou resistente, sou onipresente, sou monobloco!

Matteo engoliu em seco quando terminou de ouvir tudo isso mentalmente e até pulou o sofá, onde ficou com os pés pro alto, da forma como o médico havia recomendado e da forma como seus pais ordenaram.

Seus olhos enchiam-se de lágrimas quando Theobaldo perguntou, apontando para o gesso:

— Posso assinar?

Matteo deu de ombros e o afilhado de seus pais voltou com um canetão de lousa. Começou a escrever seu nome e fazer uns rabiscos.

— Não está bravo comigo? — perguntou o engessado.

— Não — Theobaldo o encarou. — Se tivesse dado certo teria sido engraçado.

Os dois riram.

— Além de que, você já recebeu castigo suficiente e ainda levar mais da madrinha, ela disse!

Theobaldo começou a rir sozinho. Matteo levantou a mão, procurando uma almofada no sofá para tacar nele, mas seus olhos encontraram a cadeira de plástico no meio do caminho. Resignado, ele se ajeitou no sofá, respirou profundamente e nunca mais chutou o pé de uma cadeira de novo em sua vida.

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Avaliações

2 avaliações encontradas.

Plot Execução Escrita Estilo Desafio

Um bom plot/enredo. Mas por vezes um pouco confuso, quem está narrando? O Matteo? A mãe do Matteo? A Cadeira? A mente do Matteo e ele está lembrando?

Entendo também que o desafio não foi cumprido, o pé da cadeira é citado, porém não “a perna esquerda da cadeira”, é fácil de ser resolvido, mas, no momento em que avalio o conto (30/04/2025), não consta essa expressão, necessária para o cumprimento do desafio.

Plot Execução Escrita Estilo Desafio

Melhorar: a execução do desafio, o narrador (que, ao meu ver, não deveria dar lugar à mãe).