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O HOMEM PÁSSARO

O homem nasceu pássaro, o mundo nasceu seu, asas Deus lhe deu, não sabia usar.

Caminhava, vales e florestas, mar e terra. Cantava uma canção, sonhava tirar seus pés do chão.

Findou o dia, cara de frustração, o coração no céu da boca, os olhos no céu dos céus, e o sonho nas alturas.

O sol raiou, acordou bravejando: “conseguirei minha alforria, conquistarei meu despertar da letargia. Engrandecerei meu sonho, meu sonho de liberdade. A liberdade cantará sua canção, as asas voarão acima dos muros da cidade.

Não descansou sua mente, não deu descanso aos Céus, implorou chuva, chuva de inspiração, ideias para lhe transformar, ideias para lhe fazer voar.

Andou pelo bosque, encontrou uma rosa, pediu por sua beleza, a beleza lhe foi negada. Cortou suas pétalas, cortou seu caule, atirou ao mar, a inveja lhe diminuiu a capacidade de voar.

Findou o dia, e não parou de chorar.

Abriu os olhos pela manhã, vestígios de lágrimas, guardou um segredo no coração: “vou ganhar minha emancipação”.

Não sabia, os Céus tramavam contra ele. Sua magia? Um acidente.

“Letargia… letargia… letargia…”

Alice no país das maravilhas? Não, um grito querendo vidente.

Descobrir os segredos dos anjos, desvendar os segredos da vida.

Nas alturas, por montanhas, árvores, palácios, viu um comboio de pássaros, voavam livremente. A inveja, uma serpente, destrói os passos, envenena a mente.

Mente? Mente, um diabo,

O homem pássaro caminhou pra casa não sabendo voar.

A terra girou, o dia findou, e um anjo chorou,

Chorou na dor de quem clamava pelos Céus, de quem sonhava a vida, de quem invejava a liberdade.

Desceu das alturas, sentou na gruta e rogou esvaziando sua voz. Deu um nó na garganta, àquele homem da cama… a cama inundou um rio de lágrimas.

O anjo subiu, ninguém viu, seu paradeiro, o destino do peregrino.

O homem acordou, afogando o coração em lágrimas. Não desistiu da liberdade, sua cidade.

Convocou seus joelhos, levantou suas a uma multidão de fé, habitava em seu coração. Arrependeu da inveja, curou sua terra, e a chuva começou a descer.

Ele passou a ver, passado, presente, futuro, seus olhos não mentiram, a magia da vida dando a cura.

O coração transbordou de alegria, andava pelo meio, pelo fim e pela estrada da vida. Passou a cantar a canção da liberdade, e todos o viram, habitantes daquela cidade.

O seu testemunho de transformação, a água virou vinho, o vinho virou alegria, e a alegria virou festa, no arraial, no campo, nada fazendo, na casa, na cama, na árvore, no céu, na planta. Seu louvor passou a escutar o mundo.

Começou: “voar, voar… subir, subir”… E subiu, alguém viu? Viu, os anjos, os povos, as tribos, os animais, os peixes, os corações, os olhos, as bocas, as terras, as larvas, os vulcões, os corações, os anões, os altos, os baixos, o infinito, o eterno, o pobre, o rico, e todos, não há distinção.

Sua mente passou a correr, sua ideia passou a brilhar. O sol brilhava não acima.

Os animais correram para ver, as moças para contemplar, os anjos para adorar, os meninos para aprender, as crianças para papear, no monte das libertações, daqueles corações, de pedra para carne.

O homem pássaro, de pássaro tinha a liberdade, os pés na cidade dos homens, o coração e alma nos céus dos anjos.

O Criador lhe olhava, os seres dos corpos, dos corpos de uma eternidade, lhe admiravam, rogou tanto pelas asas nas alturas, e os muros da existência, da realidade não poderiam lhe contar.

Ele anda pra lá e pra cá, sabe o seu rumo, conhece o seu destino, não pode prever o futuro, vive dia por dia contando seus pulos, seus passos, seus laços, seus nós, seus tons de voz, suas iluminações, a escuridão, seu sol, sua lua, sua vela, sua bruma.

A dor da consumação acabou no verão dos bailes dos carcereiros, prisioneiros, dá luz ao mundo, óh fazendeiro, acende o campeão, cante a canção, a canção da liberdade, nos muros desta cidade.

O homem pássaro andava, caminhava, pulava, pensava, sentava no caminho, abria um livro, o livro da vida, o livro dos dias, o livro das decepções, o livro das alegrias, das tristezas, das reclamações, das lágrimas, dos risos, do próprio caminho.

Ele sabe o nome do caminho? Ele sabe o caminho do caminho, o nome do vento, se é mercenário ou doador de sonhos? Não? Ele sabe, está aprendendo, aprendeu a voar, com aquelas lágrimas nos olhos de gente aprendendo a caminhar, a relaxar, a se despreocupar. O caminho é este, passageiro de caminhão.

Ele vai se despedindo, caminhando, caminhando a caminhada, voando pela estrada, agindo olhando para o rio.

O riso, a fé, a gratidão, a inteligência, a sabedoria, o livro, a música, a canção em dia de fogo, em dia de chuva, em dia de tempestade, em dança do vento, em encontro com o tempo, são armas, são estradas, são e são, podem ir e podem ficar.

A canção, a música, a canção da Liberdade vai tocar, vai soar, trombeta na festa das ilusões, os passos e os corações… o coração do homem pássaro, na valsa, na banda, no teto, no chão, na praia, na caminhada pela areia, transborde esses corações de gratidão. Ele disse, eu disse, nós dissemos: a liberdade cantará sua canção, e a prisão dos carcereiros, dos prisioneiros, dos parceiros vai quebrar, despedaçar, fragmentado, olhos enxugados, inalterados e mudados.

 

O homem nasceu pássaro, o mundo nasceu seu, asas Deus lhe deu, ele sabia usar.

Ele sabe voar. Nós sabemos voar. Nós aprendemos voar. Nós voamos, nós pensamos, nós existimos, nós queremos, nós sabemos, nós ouvimos, nós entendemos.

Vemos e vimos os Céus, acima das montanhas, acima dos prédios, acima dos holofotes. Vemos e vimos o homem pássaro, passando nos Céus desta cidade, cidade dos homens, cidade dos deuses.

A carta aos prisioneiros, aos carcereiros, aos ouvintes, aos escudeiros, aos guerreiros na batalha, na estrada, no saguão em espera, em lágrimas na subida e na descida, a canção da Liberdade vai tocar e os grilhões vão quebrar.

 

O homem pássaro sabe voar. Nós sabemos voar.

 

 

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