O ano é 2172 e falta pouco para que o fim do mundo ocorra. As pessoas estão reagindo de maneiras diferentes a esse fato. Alguns escolheram fingir que nada está acontecendo, outros decidiram usar o máximo de entorpecentes para celebrar a iminente destruição da humanidade, mas a prática mais comum era o sexo desregrado.
Havia gente transando na rua, no beco, na ponte, na beira do rio, no meio da rodovia… A putaria estava generalizada.
Em meio a tudo isso, Paulo um jovem rapaz de 20 anos não buscava prazer efêmero. Ele queria um amor que durasse eternamente, mesmo que a humanidade não passasse de hoje.
Ao sair para a rua, encontrou sua vizinha de idade avançada se esfregando na vassoura enquanto varria a porta de casa.
— Uma varridinha, uma sarradinha… — ela cantava, animada.
Paulo acelerou o passo.
— Oi, vizinho… Tão jovem, tão saudável, tão lindo, tão gos…
Antes que ela continuasse com a cena vergonhosa, ele a interrompeu:
— Bom dia, dona Iraci! Espero que tenha uma… excelente varrida!
E antes que ela pudesse convencê-lo a fazer parte da “festa”, meteu o pé o mais rápido possível dali.
Mas ainda era possível ver o semblante de decepção da coroa.
— Menino bobo! Nessa hora, do que importa a idade? O mundo vai acabar mesmo… — resmungou ela, acreditando que o rapaz a rejeitou por conta da diferença de idade.
Seguindo um pouco mais adiante, no banco da praça, uma bela moça estava sentada sozinha, algo raro naquele dia. Normalmente, as jovens eram as mais ocupadas… se é que você me entende.
Chegando perto dela, o rapaz a cumprimentou:
— Olá, tudo bem?
Não houve resposta.
Ele sentou no banco ao lado da moça.
Ela vestia um moletom escuro, os cabelos desgrenhados caindo sobre o rosto. Quando virou para ele, Paulo sentiu um arrepio. Seus olhos estavam vermelhos, ela salivava e parecia embriagada pela luxúria. Havia um cheiro forte e desagradável no ar. Um líquido escorria de sua parte baixa, molhando o banco.
Foi aí que Paulo percebeu: a jovem estava sozinha porque era uma maníaca que usava a si mesma como meio e fim último da satisfação sexual.
Brutal demais para nosso jovem, que buscava alguém normal para viver um amor até o fim do mundo.
Surpreso e com um desconforto nauseante, Paulo se levantou e se afastou.
Mas a moça segurou sua mão e disse:
— Fica. — Eu estou quase lá. — Quero que veja…
Ao ouvir isso, Paulo fez uma expressão de nojo, fechou o punho e acertou um direto bem no meio da fuça da garota.
— Vai pra puta que que te pariu, filha duma égua!
A moça, em vez de gritar de dor, soltou um gemido alto, como se o soco fosse um presente, e não um golpe.
Paulo sentiu um arrepio de puro desconforto e saiu dali correndo e indignado.
(Será que não tem ninguém mais normal nessa bagaça?)
Um pouco adiante.
Uma música tocava baixinho, vindo do bar na esquina. Era “Boate Azul”.
O curioso é que o bar não tinha nenhum cliente, nem pessoas fazendo sexo pelas mesas. Nada de orgias ou corpos suados se esfregando em qualquer superfície disponível. Apenas uma mulher solitária, fechando as portas.
Paulo se aproximou.
— Não estão aceitando mais clientes? — perguntou Paulo.
— Sim e não. Se quiser beber algo, será atendido. Se quiser foder, sugiro que procure outro lugar.
Paulo deu um leve sorriso. Ele não esperava que a resposta fosse tão curta, simples e direta.
— Não me entenda mal. Não sou como os outros que enlouqueceram e só pensam em sexo.
A mulher levantou as sobrancelhas e cruzou os braços.
— E o que um cara como você vai querer beber hoje, no último dia de vida da raça humana? — falou com um pouco de ironia, como se não se importasse.
— Um copo d’água.
Ela riu.
— Você vem num bar e pede água? Garoto, você é estranho.
— Oxi, não posso? E não me chame de garoto, duvido que você seja mais velha do que eu.
— Quantos anos você tem?
— Vinte. E você?
— Vinte e dois. Mas, pela sua cara branca e magrela, eu jurava que você tinha uns dezessete. Foi mal aí kkkkkkkkk!
Riu ela, tirando uma com a cara de Paulo.
— Coé, vai ficar tirando uma com a minha cara? Traz a água logo.
Ela foi até o freezer, pegou uma garrafa d’água e entregou a ele.
— Qual o seu nome? — perguntou Paulo.
— Sofia. E o seu?
— Me chamo Paulo. Que coisa louca, né? O mundo vai acabar hoje… — disse ele, bebendo sua água com uma expressão pensativa.
— Pois é. E você está pensando em fazer o quê agora que o mundo vai acabar? Não parece curtir muito sexo, e apesar da aparência não parece ser gay, já que não está participando da orgia na faculdade da rua de baixo. — Sofia perguntou, provocando Paulo.
— Eu sou um idealista do amor. Quero uma história de amor, não um simples movimento de corpos um sobre os outros. Mas e você? Pela forma como se veste, não parece ser uma mulher de igreja. Então, por que não está com os outros?
Sofia sorriu levemente e respondeu:
— De fato, não sou mulher de igreja. Até pouco tempo atrás, ganhava dinheiro deitando com qualquer um que pagasse bem.
Paulo engasgou com a água.
— Você era…?
— Sim. Uma puta. Mas não hoje. Hoje decidi fazer diferente. Não é todo dia que um asteroide acaba com a humanidade, não é mesmo?
— Então aqui é… um bordel?
— Claro, né? Você não parece saber nada desse mundo, kkkkkkk. Aqui é a BOATE AZUL, onde os doentes de amor procuram curar sua doença com outro amor. Assim como na música.
Paulo a observou de forma contemplativa. Apesar de seu histórico, ela parecia uma boa pessoa e, no meio de tal caos, ainda tinha ânimo para o humor. Realmente, uma pessoa incrível. Uma mulher forte, de fato.
— Como pretende passar os minutos restantes da sua vida? — perguntou Paulo.
Sofia olhou para o horizonte.
— Não sei…
Eles passaram horas conversando e, quando menos perceberam, a noite caiu e a hora do asteroide se aproximava.
Cinco minutos restantes para o mundo acabar. Os dois estavam no telhado da BOATE AZUL. Era possível ver o asteroide no céu.
Paulo falou:
— Nunca experimentei um amor verdadeiro e me arrependo de ter vivido como um anti-social. Se eu soubesse que o mundo ia acabar, teria vivido mais e tentado cortejar algumas mulheres.
— Garoto bobo… — disse Sofia, mas sem o tom desdenhoso de antes.
— Eu também tenho arrependimentos. Gostaria de ter casado, ter tido uma família, um bom esposo e filhos. Me arrependo de ter vivido como vivi.
Paulo virou-se para ela e disse:
— Bem que poderíamos nos casar agora.
Sofia riu.
— Como é? Kkkkkk!
— É sério. Vamos morrer juntos aqui. Então, por que não?
Ele deslizou o dedo sobre o dela, como se estivesse colocando uma aliança invisível.
Sofia sorriu.
O asteroide atingiu a Terra. Uma onda de fogo varreu tudo. Os recém “casados” foram transformados em cinzas.
FIM.
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Avaliações
2 avaliações encontradas.
Plot Execução Escrita Estilo Desafio
O plot da história é bem interessante, tem uma sutil diferença de outros cenários apocalipticos.
Agora a história brilha mesmo na execução e no estilo, pois você conseguiu deixar a história fluída e bem leve (mesmo com os palavrões),.
Sobre o desafio, em uma segunda leitura percebi que não cumpre o desafio, pois o amor romântico não é o motor da história, ele acontece como consequência da busca, mas não é bem desenvolvido.
Acredito que com uma devida revisão no plot e em alguns erros gramaticais o conto vai ficar tinindo.
Plot Execução Escrita Estilo Desafio