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A Seleção

– P. de S., você seguiu bem até os 15, quando então começou a escolher errado. Aos 18, passou um tempo preso. Depois, conseguiu evitar a cadeia, mas não evitou as escolhas ruins. Aos 40, entrou na cadeia novamente, apenas para sair de lá morto. Considerando tudo, para você é andar de baixo.

– F. de F., viveu 75 vezes o mesmo ano e chamou de vida. Nada além de medíocre, na melhor das hipóteses, e ainda escorregou aqui e ali. Pode ficar na espera por mais 75 anos.

– S. F. S., matou por amor, entretanto, matou. Por ora, 122 anos na espera; findo esse período, veremos o que fazer com você.

– A.P., você caiu, se levantou, caiu novamente, se levantou novamente, escorregou, tentou se equilibrar, não conseguiu, lutou, lutou e lutou novamente, mas foi derrotado todas as vezes. Um dia desistiu e cansou de lutar, optou pela saída que parecia melhor e agora aqui está. Você vai voltar.

– S. M. M…, nome longo, poderia ter feito o bem, mas escolheu outro caminho; deixou um rastro de dor e tragédia, destruiu vidas sem pensar duas vezes, destruiu vidas sem pensar sequer uma vez, apenas decidiu destruir e pronto.

Viveu muito, teve tempo para refletir, mudar, se arrepender, chorar. Mas, conforme os anos foram passando, se tornou uma pessoa ainda pior com todos. Você vai agora, com certeza, para o andar de baixo, escoltado, para evitar qualquer coisa que seja que está pensando em fazer.

-D. P. de A., viveu pouco e intensamente, seguiu o mantra “boas intenções e decisões ruins”, mas é isso, 15 anos no andar de baixo e 25 anos na espera; depois veremos o que fazer com você.

– O. S., você sempre vai e volta, e a cada volta parece que finalmente vai escolher mais o bem que o mal, dai fica nesse pisca-pisca, lusco-fusco, um pouquinho de bem ali, um pouquinho de mal acolá, daí vem para cá no final de tudo e decidimos pela sua volta. Pois bem, vai voltar novamente. Veja se dessa vez acerta.

– P.R., teve duas esposas, uma amante e uma namoradinha, elas se conheceram no seu velório; na sua missa, sete dias depois, ninguém apareceu. Entre esses dois eventos, seus sócios descobriram que você roubou dinheiro deles. Também fez empréstimo pessoal usando documento adulterado e documento alheio. Foi fácil, não é mesmo? Os 40 anos no andar de baixo e mais 100 anos na espera, antes de decidirmos o que fazer com você, não serão tão fáceis.

– Vocês dois aí! Conversando baixinho, achando que não vou perceber. Pois bem, os atos são individuais, cada um com o seu, mas vejamos: gêmeos idênticos, obviamente nascidos no mesmo dia, não obviamente falecidos no mesmo dia. Usaram a semelhança incontestável para fazer o mal todas as vezes, e foram muitas. De tudo um pouco, sempre conseguiram se livrar, sempre um forneceu álibi pro outro cometer as maiores barbaridades. Sim, evitaram a cadeia. Mas estar aqui é inevitável. Andar de baixo, certamente, e vou deixar anotado que devem ficar afastados um do outro. Será pior para vocês assim.

– C.A. da S, você é jovem demais para uma avaliação e muito menos para selecionar, então você vai voltar.

– D. A, ia na igreja com frequência, seguia todo o ritual enquanto pensava em tudo de errado que havia feito na semana, se divertia e se deliciava com isso; era como fazer o errado duas vezes. Você vai para o andar de baixo, mas antes, alguns anos de espera. Então três anos na espera e depois andar de baixo.

– J.L, rosto angelical, mas, por dentro, por detrás da máscara, um diabinho: agiu nas sombras, mentiu, manipulou. Foram anos fazendo de tudo, agindo como um fantasma. Daí, perdeu o rosto angelical, pois a idade chegou e não dava mais para usar essa máscara. Foi então que se tornou violento. Você tirou a máscara e começou a usar a espada. Agora você vai para o andar de baixo.

– P. de M., você poderia subir, mas se acovardou; depois, em momentos decisivos, deu pra trás na hora de fazer o bem. Você vai ficar 25 anos na sala de espera, depois volta para cá.

– S. de A, você está de volta após 57 anos na sala de espera, mas ainda restam algumas dúvidas sobre seu caso. Mais 50 anos de espera para você.

– Romeu, apelido de B. A, você foi canalha quase a vida inteira, com golpes aqui e ali, roubos vez ou outra, magoou sempre que pode. Já no final da vida, com a pálida e fria morte acenando no horizonte não tão longínquo, tentou se redimir.

Mas, na balança final, só vejo poucos anos de redenção de um lado e décadas de maldade do outro. Então, para você, são 15 anos de espera e depois você volta. Para lá, não para cá.

– M.S., matador em série até cansar, um dia cansou. Nunca mais pensou no assunto. Foi como se nunca tivesse feito nada, mas fez. Andar de baixo para você.

– M. de F., você agiu de maneira displicente e irresponsável ao longo da vida. Mais de uma pessoa sofreu as consequências dos seus atos, mas você nunca sofreu nada. Não se pode dizer entretanto que tenha sido maldade pura. Por isso, você vai passar 34 anos na sala de espera e depois voltará aqui.

– T. R, você abriu a cabeça de uma pessoa com um martelo praticamente por nada e acabou numa cela pelo resto da vida. Poderia contar como tempo de espera, mas há dúvidas sobre você. Então, 124 anos na sala de espera e depois você volta aqui. Aproveite bem, pois por pouco você não foi pro andar de baixo.

– G.I., você foi de garoto sonhador para sustentáculo de regime tirânico em poucos anos, posição em que ficou a vida inteira. O que importa é sua conduta individual, não a das pessoas à sua volta, mas a sua conduta individual for horrível, você merece e vai para o andar de baixo.

– N.O, você foi mãe muito jovem, mas tentou navegar pela vida sem se comprometer. As pessoas ao seu redor foram todas para o andar de baixo: filhos, marido, amante, amigas. Você, entretanto, conseguiu evitar o pior, sem, porém, fazer o melhor. Serão 60 anos de espera, por ora.

– P.A.S, entre idas e vindas já passou por tudo, voltou algumas vezes, andar de baixo por tempo limitado, espera também. Deixa o bem de lado, evita o mal mais do que faz. Voltar não é bom nem para você, muito menos para os outros. É ruim, mas não tão ruim a ponto de seguir para o andar de baixo, mesmo que vez ou outra vá para lá. A sala de espera, porém, não lhe fará nem melhor, nem pior. Você, dessa vez, evitará as idas e vindas por um tempo. 400 anos de espera.

– O de B., teve bons anos e anos ruins, porém, nos anos ruins foi realmente uma pessoa ruim: fez o mal com tranquilidade, mas nos anos bons fez pouco bem, mais evitou o mal do que fez o bem. Para você, são 2 anos de espera, depois 12 anos de andar de baixo. Após esse período vai voltar para cá.

– R. B, algumas pessoas são como você, simplesmente horríveis e não vão mudar. Então você vai pro andar de baixo.

– M.T., soldado, morreu em uma igreja abandonada, em meio a uma guerra sangrenta, enquanto buscava alguma redenção. Mas morreu antes dessa redenção. Pela tentativa, são 50 anos de espera e depois você volta para cá.

– A todos vocês restantes, saibam que é o fim do meu turno, caberá agora a outro a honra de lidar com vocês.

– Como foi o turno de hoje?

– Corriqueiro.

– Alguém subiu?

– Ninguém…

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Avaliações

2 avaliações encontradas.

Plot Execução Escrita Estilo

Eu gostei muito da ideia desse conto, a ponto de que ele se parece (eu acho, pelo menos se o estiver interpretando da maneira que acredito ser a correta) com um conto meu. Aqui, no entanto, parece haver uma estrutura mais burocrática, onde pessoas condenadas pelos seu pecados são sentenciadas com base numa personagem que se dirige diretamente a nós, como se fôssemos os personagens. Achei isso muito interessante, porque ressalva o fato de que na maioria das vezes o ser humano se vê refletido nos pecados dos outros também.

Eu achei que a narrativa iria se desenvolver em algum tipo de arco, mas ela é completamente estática. Não seria de todo um problema se o autor explorasse mais as facetas dessa estrutura burocrática, mas ela parece estranhamente variável dependendo do tipo de pessoa. Fiquei curioso para saber mais sobre a sala de espera, gostaria de conhecê-la melhor, mas o autor decidiu não elaborar mais, então me resignei somente a analisar o foco do texto.

Não achei o foco bom, no geral, porque apesar de começar bem, ele não se desenvolve. Além de ser estático, a cavalgada ininterrupta de um personagem para o outro me foi um tanto quanto tediosa. Para cumprir o desafio, achei que foi interessante, mas como conto, eu não leria, ainda que o estilo que o autor implementa para escrever seja bem divertido.

Plot Execução Escrita Estilo

Vou comentar enquanto leio e depois comento de forma mais ampla:

Tá faltando bastante vírgula, guri! Só no primeiro parágrafo, falta uma já depois de “até os 15”, outra depois de “Aos 18”, outra depois de “Depois” e depois de “Aos 40”, que eu notei.

Tem vírgula no lugar de ponto depois de “sair de lá morto”. Aqui, começa um novo período, sem dúvidas: “Considerando tudo…”.

As demais vírgulas e pontos eu vou só mexer no texto (com direito a reclamações rs).

Coloquei um “e” depois da vírgula de “na melhor das hipóteses”, e ponto e vírgula depois de “anos nas espera”.

Quarto parágrafo perfeito (acho).

O Período do “P.R, teve duas esposas” tá muito confuso. Tentei melhorar, confere.

Pus dois pontos depois de “mas vejamos”.

“Considerando tudo, para você é andar de baixo”, que resposta seca do kct kkk faz mais

“viveu 75 vezes o mesmo ano e chamou de vida”, wowwww!

“S. M. M…, nome longo” HAHAHAHAHAHAHAHHA nego chato da peste

“depois veremos o que fazer com você” ideia repetida, pode melhorar

“antes de decidirmos o que fazer com você”, ahhh poxa

O P. de M. tá chatinho, só conta, sem provar.

EXECUÇÃO (enredo, estrutura narrativa, avanço da trama, ambientação, construção de personagens e temas, furos de roteiro).
Vou comentar isso já, porque desse ponto da leitura em diante, confesso que foi extremamente cansativo. A fórmula não foi suficiente pra manter o ritmo. O julgamento moralista duvidoso (de sei lá quem) também ajuda no desgaste. A falta de vírgulas (e algumas no lugar de pontos), fizeram a leitura ser um pouco mais sofrida do que deveria.

O humor do narrador foi muito bem apresentado, mas sua ética ficou bem estranha em alguns pontos. E acho que o final poderia melhorar com ele dizendo algo como “você me conhece”, ao invés de dizer o que o leitor já sabe. Fora isso, poucos personagens apresentados foram casos interessantes e isso deixou o texto sem subtramas, com zero construção de cenário. O ritmo do texto é zoado, pq é tudo igual; cansa bastante também pq não tem nenhum ponto de virada do início ao fim.

Não é uma execução ruim para o plot, mas a execução conta mais do que o plot.

ESCRITA (ortografia, vocabulário, gramática, sintaxe [basicamente, língua portuguesa]): A escrita é acima da média, mas tinha muito erro de vírgula, ponto e vírgula, ponto e dois pontos. Corrigi alguns erros de concordância, como “As pessoas ao seu redor foram TODOS”. Foram consertados, mas contam, certo? Falta de revisão não pode ser culpa de quem lê.

Outra coisa: depois de indicar o que a pessoa fez, para então mostrar uma lista, não é vírgula, é dois pontos. Tive que inserir várias vezes no texto.

ESTILO (narrador, figuras sintáticas e de linguagem, estruturas frasais [perícia como escritor de ficção]): O texto é simples, e isso não é ruim por si só. As falas são diretas e claras, mas o plot não é necessariamente proibitivo quanto à literariedade (construções mais belas ou com uma retórica mais interessante, mesmo dentro do contexto e do tom – que eu senti falta de uma tensão crescente). As frases seguem todas o mesmo padrão, o que facilita muito pro autor, mas não sei se isso é bom ou pobre. E, claro, o estilo do conto precisa combinar com o tom e o plot. Mas tão claro quanto é o fato de que são todas escolhas conscientes, com custos que o autor precisa absorver nas críticas.

PLOT: Eu gostei bastante do plot. Eu duvido que alguém já tenha pensado em executar esse desafio com múltiplos narratários. Nota máxima no plot (apesar do enredo não ter me agradado tanto, pela repetição e falta de uma estrutura mais dinâmica de storytelling).