Entre a divisa de Jaboatão e Recife, há um morro assombrado, onde não mora ninguém por perto; seu topo é cheio de casas abandonadas. Entre essas casas, existe uma única habitada, onde mora uma velha mulher. Às vezes, da casa daquela mulher é possível ver fumaça, como se estivesse pondo fogo em alguma coisa grande; e sempre quando a fogueira acende, um córrego imundo desce da casa, com certas coisas que, pelo o que os moradores dizem, parecem ser intestinos, cabeças e patas de ratos. Em média, uma vez a cada dois meses aquela fogueira acende e tal córrego imundo desce ao redor do morro. Um padre idoso que mora na região já há muito tempo, conta que quando ele chegou para morar com sua irmã, aquela velha macabra criou inimizade com eles por serem “pessoas de Deus”, então fez pactos com o demônio, e sua irmã desapareceu. Após isso, a velha foi morar no topo do morro, no bairro fantasma, e as pessoas que moravam ao redor dela começaram a falecer misteriosamente. Desde então, todos que tentaram morar ou construir alguma casa no lugar morreram de forma estranha por doença, que em maioria era uma tuberculose, que evoluía a uma velocidade que o sujeito tinha seu fim sem qualquer reação do tratamento. Alguns morreram também por doenças cardiovasculares ou em casos mais raros por algum acidente repentino.
Nesses tempos recentes, começou de novo a descer aquele córrego com vísceras de rato com uma frequência bem maior do que costumava e todos ficaram apavorados, com boatos e superstições pelas ruas. Os rumores voltaram a assombrar o povo. Porém, o cúmulo da assombração veio quando algumas crianças que moravam no morro ao lado desapareceram sem explicação, pela noite, enquanto brincavam na rua já tarde de esconde-esconde. Segundo o que uma das crianças disse, 3 garotos se esconderam e não apareceram mais; ninguém os achou, mas ouviram gritos vindo do topo do morro onde morava a velha, junto com um berro assustador. A polícia foi chamada, porém, ao investigarem, patrulhando as ruas, subiram ao morro onde morava a velha e encontraram todas as casas abandonadas; nem a própria anciã acharam lá, deduzindo que não morava ninguém no lugar. Após 5 dias, nenhum sinal foi dado, nem sequer um rastro para ser seguido. Foi quando, inesperadamente, os moradores viram fumaça saindo lá de cima de novo e todos se alarmaram. Um homem ali do local, seu Joaquim, um pedreiro de 43 anos, um supersticioso que acreditava em lendas, decidiu que iria subir para procurar saber o que acontecia lá por cima. Comentando isso com seu amigo da vizinhança, Antônio, de idade similar, e seu ajudante das obras, um rapaz de pouco mais de 20 anos, apelidado Telba, os três naquela tarde de quinta-feira, conversavam com o padre, e alguns fiéis da igreja, atentados pela curiosidade e por lendas que o povo ao redor inventava já desde muito tempo, sobre bruxaria e de que a velha louca tinha costume de fazer coisas bizarras. Alguns comentaram terem ouvido dizer que a velha praticava todo tipo de magia negra lá em cima e tinham certeza que ela morava lá, apesar dos policiais não terem achado ninguém. Os boatos eram muitos e diziam que a velha bruxa havia pego as crianças. Os homens decidiram que iriam tirar satisfações sobre o que estava acontecendo lá em cima. Então, conversando com os fiéis, quando ouviu que pretendiam ir lá, o padre insistiu que não fossem de maneira muito rigorosa, dizendo “vocês não sabem o que acontece por lá e nem sabem se há perigo”, mas os homens, já decididos, continuaram. A reação deles deixou o padre extremamente nervoso; pensaram que o padre provavelmente devia ter lembrado da situação que houve com sua irmã, e se manteve relutante para que não fossem, tentando os fazer desistir a qualquer custo, mas acreditando em lendas e crendo que havia algo de errado com aquela velha. Porém, sem acreditar que ela oferecia risco, já que era idosa, partiram ao morro. Seguindo uma caminhada de 20 minutos, chegaram à escadaria do morro, com o fedor imundo que tinha por ali, pelos restos apodrecidos dos ratos, e eram, de fato, dezenas de milhares. Os três subiram as escadarias e observavam as casas abandonadas acima com um clima tenso.
Finalmente, chegaram à casa habitada pela velha louca, Joaquim, Antônio e Telba. A casa estava completamente trancada, as janelas tinham barras, o chão era de barro. Entre eles, os homens comentaram o quanto aquele lugar era estranho. Era por volta de 17h20 horas. Comentavam suas impressões enquanto davam a volta na casa, quando, então, atrás dela encontraram a cena bizarra de restos de animais, ratos, gatos, sapos, pombos, tudo recente, como se tivessem sido mortos naquele mesmo dia. No meio, havia uma escritura no chão numa língua que nenhum deles conhecia. Ao redor da escritura, havia caminhos escavados na terra, por onde passava a água imunda, e seguia para despejar no córrego, como se fosse um ritual macabro. Passou algum tempo e Telba ficou paralisado por alguns minutos olhando aquelas escrituras, quando, por fim, anoiteceu. Foi então que os homens ouviram sons de um assovio aterrorizante. Quando o vento aumentou sua intensidade, o assovio tornou-se um berro ao longe, vindo de uma única direção. No momento em que os homens olharam para a escadaria do morro, viram uma criatura escura que vinha flutuando como um fantasma de aparência horripilante: braços longos e magros, pernas tortas, uma cabeça deformada sem mandíbula e olhos arregalados. Em volta da cintura da coisa havia três cabeças penduradas. A criatura fez o berro fantasmagórico aumentar e eles se assustaram brutalmente. De repente, ela começou a vir na direção deles e foi quando a velha abriu a porta da casa fazendo-os ver que tinha alguém lá. Todos correram para dentro rapidamente. Ao entrar, perguntavam desesperadamente “o que é aquilo lá fora?”, porém a velha só gesticulava e abria a boca, mas não conseguia falar. Só então se deram conta de que era muda.
A velha se sentou à mesa e escreveu numa folha ““”não tive tempo de terminar o ritual, ela veio outra vez!”””. Enquanto isso, a coisa se movimentava depressa, batendo ao redor da casa tentando entrar. A velha então começou a escrever um grande texto no papel. Os homens, perturbados, perguntaram: “o que está acontecendo, o que está escrevendo aí?”. A velha puxou outra folha e escreveu de forma frenética e também muito assustada; quando pegaram o papel estava escrito:
— Esta é uma tradução da inscrição em outra língua no chão lá fora, sobre a maldição. Aquilo é uma mulher que foi amaldiçoada! Por favor, levem isso e deem às pessoas que vivem fora daqui para elas saberem tudo que está acontecendo! Elas precisam saber! Por favor!
Telba ficou observando a velha, mas Antônio e Joaquim estavam desesperados. Ao verem que a criatura se afastou, abriram a porta de trás e um deles gritou:
— Telba! Vamos correr enquanto aquela coisa foi embora!
Então, correndo desesperados, saíram descendo a escadaria do morro, mas quando olharam para trás, viram que Telba não veio com eles, então, pararam. Desesperados, comentavam sobre o que fazer, quando viram Telba descendo correndo a escadaria com o papel da velha na mão gritando.
— Meu Deus! Meu Deus! Vocês precisam saber o que é aquela coisa, não po…
Foi Telba interrompido quando, de repente, apareceu a coisa, que veio extremamente rápido para cima dele. A coisa bateu nele com força, empurrando-o na escadaria. Telba bateu a cabeça e desmaiou. A criatura pegou a folha no chão que estava com Telba, com suas mãos cheias de dedos tortos, depois puxou-o pelo pé para o topo do morro escuro, onde não havia nenhuma iluminação.
Os homens apavorados correram para a casa de Antônio, a mais próxima, e se trancaram lá. Ficaram lá a noite toda e contaram tudo para o filho de Antônio que morava com ele; passaram a noite toda apavorados.
No dia seguinte, já estavam contando tudo a todos os moradores, até que isso chegou nos ouvidos do padre, que os chamou para conversar. Chegaram na igreja Antônio, Joaquim e outros moradores locais armados, prontos para subir aquele morro. Ao chegarem na igreja, conversaram por um tempo com o padre e ele ouviu tudo com atenção. Enquanto alguns faziam milhares de perguntas, o padre, sem muita expressão de espanto, perguntou:
— Aquele demônio levou o jovem Telba para o topo do morro? Meu Deus! E Telba não contou nada do que descobriu por aquele papel que a velha deu a vocês?
Antônio e Joaquim responderam não, pois Telba havia ficado por último, enquanto nós fugimos, antes da velha contar qualquer coisa. E acrescentaram:
— Precisamos voltar lá!
Todos se juntaram naquele momento e tomaram o caminho do morro saindo armados e velozes.
Porém, ainda sem demonstrar muito espanto, ou qualquer desespero, o padre deu as costas para eles enquanto se distanciavam e saiu caminhando para dentro da igreja. Na medida em que entrava e se distanciava das pessoas, surgia um leve sorriso em seu rosto.
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2 avaliações encontradas.
Plot Execução Escrita Estilo Desafio
Antes, algumas considerações diretas sobre o texto; depois, minha avaliação para os critérios:
SUGESTÕES
– “reação do” por “reação ao”; “pensaram que o padre”, por “pensaram que ele”; “houve com sua irmã”, acrescentar: “e por isso,”;
– melhorar “Passou algum tempo e Telba ficou paralisado por alguns minutos”
VÍRGULAS
depois de: “cardiovasculares ou”; “então, atrás dela”;
PONTO FINAL
depois de: “se há perigo”; “na direção deles”
COISAS
– “tentando os fazer” por “tentando fazê-los”; “17h20 horas” por “17h20”;
– tirar os ““”
– “e” depois de “veio com eles,”
– “responderam não” por “responderam que não” (pois havia ficado por último, enquanto eles fugiam).
PLOT
Gostei da ideia geral e dos itens secundários. Tem bastante potencial.
EXECUÇÃO
Alguns personagens são bem construídos, outros nem tanto. Há MUITA exposição no texto todo, quase como numa matéria de jornal. A estrutura é boa, mas algumas informações ficam confusas. O tema principal é bem desenvolvido, mas não desenvolve subtemas.
ESCRITA
Tem algumas correções pra fazer, mas nada muito difícil. A sintaxe não colabora muito com essas frases gigantestas.
ESTILO
O narrador é consistente, mas não oferece nada de mais. O texto não tem preocupações estéticas, apesar de uma frase muito boa (sonoramente).
DESAFIO
Cumpre, mas em uma cena exclusiva. Tem muitas características que se esperaria de um conto fantasmagórico (horror, talvez gore, suspense), mas o aspecto fantasmagórico em si é mínimo.
Plot Execução Escrita Estilo Desafio
*Um padre idoso que mora na região já há muito tempo, conta que quando ele chegou para morar com sua irmã, aquela velha macabra criou inimizade com eles por serem “pessoas de Deus”, então fez pactos com o demônio, e sua irmã desapareceu.*
Ambiguidade: quem fez o pacto?
*Um padre idoso que mora na região já há muito tempo, conta que quando ele chegou para morar com sua irmã…* e *Após isso, a velha foi morar no topo do morro…*
A irmã desaparece e a velha que se muda? Qual o sentido disso? Ela fugiu temendo ser descoberta?
*Passou algum tempo e Telba ficou paralisado por alguns minutos olhando aquelas escrituras, quando, por fim, anoiteceu. *
Considerando que o autor frizou que era “17h20 horas” [SIC], esse rapaz ficou 40 minutos paralisado? Estou considerando que comece a anoitecer em Recife por volta de 18 horas.
Enfim, o conto peca muito na escrita.
Tem um estilo muito coloquial, como se tivesse sido falado, não escrito. Torna a leitura, muitas vezes, confusa.
Considerando a execução o link entra o plot e a escrita, não há como não penalizar um pouco a execução, uma vez que a leitura precisa ser triplicada para compreensão da apresentação da história.
Cumpre perfeitamente o desafio.
O plot é o ponto alto desse conto. É uma história interessante, com uma reviravolta ainda melhor no final.