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Kathedra: o jogo do equilíbrio

Sem esperanças, Líbrio via na morte sua única salvação. Pegou uma extensão, fez um buraco na laje e atravessou o cabo. Subiu na cadeira e, de frente para as fotos, disse suas últimas palavras: “Estou indo, mãe e pai. Você também, meu amor.”

Já quase sem vida, acontecimentos misteriosos ocorrem no quarto: ventanias e redemoinhos desamarram o laço que apertava a garganta; as lufadas o arremessam contra a parede, fazendo-o perder a consciência por um instante após bater com a cabeça. Objetos são lançados contra o suicida e ele acorda. De joelhos, ele se arrasta até a fonte das rajadas, escapando por pouco de facas e ganchos. Finalmente, alcança o objeto que o salvou da morte.

Líbrio, em prantos, não acredita no que sucedeu. Em suas mãos, a perna da cadeira que pertencia a seu avô falecido. Líbrio, então, exclamou: “Vovô, é o senhor? Me perdoe! Eu só queria estar com vocês!”.

A perna escorrega de suas mãos e, ao tocar o chão, se transforma instantaneamente em um jogo chamado Kathedra, banhando a sala em uma luz cintilante.

“O que está acontecendo?”, exclama admirado, passando os dedos nas gravuras. O brilho se intensifica e, de repente, Líbrio é transportado para dentro do jogo. Não!

Respirando fundo, ainda abalado pelo susto da noite anterior, Líbrio desperta em um mundo desconhecido. Confuso, pergunta quase sem voz: “Onde estou?”. Líbrio sente-se sendo observado. Reconhecendo o ruído de queda d’água, vai até a cachoeira e permanece cauteloso. Na cascata, animais saciavam a sede. Pegou um punhado de água na mão e passou nas feridas do pescoço que, de repente, desapareceram. Líbrio, ainda assustado e intrigado, percebeu passos se aproximando.

“Quem está aí?”

“Você está longe de casa e vejo que não sabe o que tem nas mãos.”

Librio respondeu ao estranho:

“Que bom que você está aqui, cara! Não sei o que aconteceu. Uma luz forte saiu da perna dessa cadeira e acabei aqui. Você poderia me ajudar?”

O estranho replicou:

“Claro, mas por um preço. Você tem que me dar a perna.”

“Por que você quer essa perna?”

“Esse é o acordo. Dê-me a perna e você irá para casa, sem mais perguntas. O negócio está fechado?”

“Primeiro, diga-me seu nome.”

“Por que isso importa?”

“Bem, você está certo. Não preciso saber quem você é. Negócio fechado.”

“Então, me dê a perna.”

Quando Librio estava prestes a entregar a perna, teve a sensação de que todo aquele bioma estava morrendo diante dele, junto com o estranho à sua frente. Os animais começaram a correr dali, como se procurassem migrar para outros lugares. Librio perguntou ao estranho:

“O que está acontecendo?”

“Não sei. Me entregue a perna.”

De repente, uma águia gigante veio do céu e atacou o estranho, levando Librio para outro lugar. Librio lutou para se libertar das garras da águia, mas sem sucesso, e a própria águia gigante falou com Librio:

“Calma, não vou te comer, se é isso que você está pensando.”

Librio ficou ainda mais assustado. Segundos depois, a águia arremessou Librio em terra firme, diminuindo de tamanho e pousando graciosamente em uma rocha perto dele. Librio, ainda apavorado e caído de bruços no chão, olhou para a águia. Ela continuou:

“Você não precisa correr; não vou te machucar. Meu nome é Gnay.”

“O que é você?”

“Sou um dos espíritos da floresta e aquele com quem você estava conversando se chama Irregular. Ele é a causa das catástrofes que estão devastando os nossos mundos. Tudo começou com ele jogando essa perna no seu universo.”

Sem postergar, Gnay explicou para Librio o que era preciso para voltar para casa:

“Para você voltar para o seu universo, você precisará colocar a perna no seu lugar de origem e restaurar o equilíbrio.”

“Mas Irregular disse que me levaria para casa se eu desse a perna para ele.”

“Você foi ingênuo. Irregular é um trapaceiro que fará de tudo para ser livre.”

“Livre? Por quê livre?”

“Irregular, há muito tempo, foi um servo que trabalhava na manutenção das regras e normas desse mundo, mas um pensamento recorrente o atormentava: ele sentia-se escravo desse dever e, revoltado, arrancou a perna esquerda da cadeira que equilibrava os mundos, achando que iria ser livre. No fim das contas, porque percebeu que livre mesmo ele era livre quando cumpria seu dever de regular as leis dos cosmos. Agora, Irregular pretende colocar a perna novamente na cadeira para ter direito a um desejo.”

“Direito a um desejo?”

“Quem restitui o equilíbrio da cadeira tem direito a qualquer tipo de desejo”

“Eu poderia ressuscitar minha família e esposa?”

“Sim.”

“Pode me levar até lá?”

“Monte nas minhas costas.”

Quando Librio avistou a caverna, Gnay olhou para ele e confirmou. A águia desceu até a abertura da caverna, Librio desceu, mas relutou em seguir, deixando Gnay sozinho atrás de Irregular.

“Se quer me ajudar, restaure o equilíbrio da cadeira.”

Com uma lufada forte, jogou Librio para longe, deixando o lugar.

“Espere, já vi essa ventania antes no meu quarto…”

Ao longe, Librio viu, Irregular, o trapaceiro, que com uma armadilha feita com cipós, prendeu Gnay. Librio voltou para tentar ajudar, mas, antes que pudesse, uma rocha caiu sobre Gnay, esmagando-a, fazendo Librio se ajoelhar e chorar.

“Não, Gnay!”

“Todos próximos de você morrem. Você é amaldiçoado, baldo!”, disse Irregular.

“Mas tenho a chance de mudar tudo.”

Irregular estava tão convencido da vitória que não prestou atenção em Librio, que pegou um punhado de areia. Irregular o agarrou pela camisa e debochou, mas Librio arremessou areia em olhos. Librio correu para a caverna enquanto Irregular se debatia para limpar os olhos.

Librio já estava longe nos túneis mofados quando Irregular conseguiu persegui-lo. Librio, perdido no labirinto e desesperado, não sabia por onde ir, até que enxergou uma luz vindo de longe. Irregular, com um estilingue, arremessou pedras em Librio, tentando desnorteá-lo, mas Librio conseguiu alcançar a câmara que levava a uma saída. Librio pulou para dentro da câmara e nadou pelo túnel inundado até sair em uma cachoeira. Eram águas turbulentas e teve que escapar até de ataques de crocodilos. Saindo da água, chegou a uma torre. Irregular vinha logo atrás.

Librio subiu rapidamente a torre, mas quando estava escalando a montanha, Irregular mostrou a ele a família de sua esposa através de um portal mágico.

“Você não me engana, isso é só uma ilusão.”

“Não, eu posso ver as pessoas do seu universo e o nosso trato era real.”

“Mentira!”

“Você acha que o que aconteceu com sua família foi maldição, mas direi a verdade. Eu os matei porque queria a perna e eles estavam no meu caminho. Fiz parecer que todos morreram em desastres naturais.”

“Seu maldito!”

“Fiz tudo pela liberdade que um dia tive. Você não pode entender o que é ser escravo de um erro sem ter segundas chances.”

“Eu vivi minha vida achando que eu tinha matado todos que amava. Pensava que era culpado. Então, não venha dizer que não entendo. Mas sei que tenho a chance de salvá-los.”

Librio subiu a montanha sem olhar para trás, apressado para salvar aqueles que amava. Irregular, com raiva nos olhos, tentava alcançá-lo. Quando chegaram ao topo, um dragão cego que protegia a passagem acordou do seu sono. 

Irregular jogava pedras com seu estilingue para que o dragão soubesse a localização de Librio. Porém, com sua astúcia, Librio tirou sua bota e apanhou as pedras de Irregular. Librio viu um grande sino velho que estava acima de Irregular e jogou uma das pedras nele, resultando em um grande barulho que atraiu o dragão para a localização de Irregular.

Librio aproveitou a oportunidade e entrou pela porta onde viu a cadeira sobre uma escada. A cadeira estava se deteriorando junto com os degraus. Sem perder tempo, Librio correu até a cadeira e colocou a perna esquerda no seu devido lugar.

Irregular, após ter conseguido distrair o dragão com uma ilusão de si mesmo, entrou pela porta e viu Librio sentado na cadeira. A cadeira proferiu provérbios de sabedoria antes que Librio fizesse o seu desejo e, por fim, disse:

“Fale para mim, peça com razão e ganhará felicidade. Porém, certifique-se de estar em equilíbrio. Caso contrário, não posso ofertar por você, pois está desbalanceado, principalmente de vaidade.”

Líbrio desejou com sabedoria: “Por favor, devolva a liberdade de Irregular.”

E o equilíbrio foi restaurado. O mundo de Kathedra voltou a ser a bela fauna e flora de antes e os animais cantavam com alegria. O que estava soterrado por rochas ressurgiu como o mais belo sol ao amanhecer.

Gnay apareceu pela porta protegida pelo espírito do dragão e se acomodou em um dos braços da cadeira. Irregular olhou para Líbrio e sorriu, e suas vestes mudaram de preto para branco. Mas ainda não era o fim, pois um portal mágico foi aberto, mostrando a família de Líbrio na Terra. Eles estavam bem, mas alguém estava internado no hospital: o próprio Líbrio.

Gnay falou: “O equilíbrio foi restaurado. Tudo está no seu devido lugar, não é, Irregular?”

“Sim, Gnay”, disse Irregular.

“Apenas uma coisa está faltando.”

Com sua rajada de vento, Gnay empurrou Líbrio até o portal mágico, fazendo-o voar e ser teletransportado de volta. Líbrio acordou no hospital, onde sua família o aguardava. Sua esposa, feliz, o beijou e chamou os pais de Líbrio, que o abraçaram chorando. Todos riram de alegria.

Líbrio, finalmente, disse: “Parece que tudo está no seu devido lugar.”

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Avaliações

2 avaliações encontradas.

Plot Execução Escrita Estilo Desafio

O plot está confuso, é um mundo fantástico? Ou um sonho suicida? Ou o personagem entra em um jogo? Isso afeta a execução, porém está bem escrito.

tive também um pouco de dificuldade para entender o estilo, a narração, o sistema usado.

O desafio foi cumprido, porém não dei a nota máxima pois, por vezes, fiquei com a impressão de que a “perna esquerda da cadeira” foi colocada apenas para cumprimento do desafio, uma inclusão quase às pressas.

Plot Execução Escrita Estilo Desafio

PLOT: Super confuso (e engraçado, mas não sei se devia ser).
EXECUÇÃO: O personagem é bem construído, mas com muuuuito infodumping; há muitas conveniências no enredo, de um jeito exagerado, com muita coisa injustificada.
ESCRITA: A escrita está boa, mas me parece coisa do GPT. Sugiro pensar nisso na próxima. Ainda assim, compensa, sim, usar GPT pra conferir pontuação.
ESTILO: É pouco literário; o narrador é genérico; a narrativa é apressada e com pouca personalidade.
DESAFIO: Cumpre o desafio, mas parece a perna da cadeira parece um pretexto, de tão pouco que tem a ver com o plot no fim das contas.